Marrocos e seus gatos…

Eu gostaria muito que o título deste post estivesse no sentido figurado, mas infelizmente não..  hoje eu só vim falar sobre os felinos mesmo! hahaha 😛

Desde que cheguei em Marrocos, alguns detalhes me chamam a atenção e insistem em me recordar de que eu não estou no Brasil. A quantidade de gatos nas ruas é um deles.

No começo eu achei que era uma simples coincidência (talvez fosse só no meu bairro), mas depois eu notei que eles estavam por toda a cidade… E depois de viajar por mais de 8 cidades, de norte a sul, notei que isso era um fenômeno próprio do país.

Se os gatos realmente pretendem dominar o mundo, como muitos dizem por aí, com certeza eles decidiram começar por Marrocos! ^^

Gordos, magricelos, pretos, amarelos, filhotes, adultos, bonitos e feios… Eles estão por toda a parte! Tantos, mas tantos, que existem cartões postais de Marrocos com gatos! hahahah E eu diria até que é impossível você sair de casa e voltar sem ver pelo menos um deles.

Tudo isso me deixou super curiosa e eu resolvi pesquisar um pouco sobre o assunto. O que eu descobri é que grande parte dessa superpopulação felina esta relacionada a religião. Ou a interpretação popular. Eu explico!

Mas antes de falar dos gatos, é preciso falar sobre os cachorros, que são poucos por aqui, diga-se de passagem.

Acontece que a maioria dos muçulmanos acredita que os cães são animais impuros e, portanto, procura evitar todo e qualquer contato com eles, principalmente com a saliva do animal.

O engraçado é que essa crença, ao contrário do que muitos deles pensam, não está no Alcorão! Aliás, pesquisando sobre o assunto (na internet e com meu super professor do Islã – meu amigo da Arábia Saudita) eu descobri que o Alcorão em si até cita os cães, mas não numa maneira negativa, afinal eles podem ser utilizados para caça e para a proteção da casa.

O que acontece é que os muçulmanos seguem, além do Alcorão, suas interpretações: as Sunas e os Hadiths.

Sunas são as tradições e os ensinamentos transmitidos pelo profeta Muhammad (Maomé em português), que é o mais recente e último profeta do Deus de Abraão.

Hadith é um corpo de leis, lendas e histórias sobre a vida do profeta Muhammad.

Resumindo, o Alcorão é a lei máxima do Islã, pois são palavras vindas diretamente de Allah (Deus) e as sunas representam a segunda fonte destas leis, acompanhadas pelo hadith, pois são as palavras do profeta Muhammad e as interpretações de suas histórias de vida.

Pois bem, o Alcorão (ou seja, Allah) não fala que os cães são impuros, mas há hadiths que falam contra esses animais e muitos muçulmanos seguem as sunas e o hadith com a mesma precisão com que seguem o Alcorão, embora elas sejam interpretações da lei de Deus. Resumindo? A galera interpretou como quis e saiu espalhando por aí que os coitados dos cães são impuros. No fim, a repulsa é tanta que chamar um muçulmano de “cão” é uma ofensa enorme!

Maaaas… Existem suras e hadiths que falam sobre a adoração felina do profeta Muhammad. Ele tinha um gato chamado Muezza e alguns hadiths comentam sobre o profeta dando sermões com o bichano por perto. Tem até uma história de que o Muezza estava dormindo sobre a manga do manto de oração do profeta e o Muhammad preferiu cortar a manga do que acordar o gato. Ah! E em outra contam que o Muezza salvou o profeta de levar uma picada de cobra.

Se isso ainda não fosse suficiente, tem até uma história sobre uma mulher que foi pro inferno (!!!) ‘simplesmente’ porque ela deixava seu gato trancado dentro de casa e não o alimentava!

Enfim, tudo isso fez as pessoas criarem uma grande simpatia pelos felinos, que vivem livres, leves, soltos e felizes da vida por aqui. Ou não tão felizes, afinal são tantos que eles se reproduzem descontroladamente e às vezes ninguém os alimenta.

E eu contei tuuudo isso só pra comentar que eu (que já sou looooouca por gatos) vivo pelas ruas suspirando a cada filhotinho que encontro. Ou miando, pra conversar com eles! 😛 hahahah

Rawrrrr ;*